Um resumo do Seminário sobre as barreiras e estratégias de implementação das Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil

   Por Dra Sandra Gioia

No dia 15 de Junho, a Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Rio de Janeiro promoveu uma discussão sobre Políticas Públicas de Saúde em Câncer de Mama no primeiro dia do VII Simpósio Internacional de Mastologia – Rio (SIM RIO) com o Seminário sobre as Barreiras e Estratégias de Implementação das Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil.

Foram discutidas estratégias para a Detecção Precoce do Câncer de Mama e Acesso Rápido ao Tratamento. Fatores estes determinantes para diminuição da mortalidade e aumento da sobrevida por esta doença.

Estiveram presentes gestores de todas as esferas governamentais, apoiadores das áreas técnicas relacionadas com o câncer de mama, pesquisadores interessados nos processos de tradução do conhecimento científico e sociedade civil do Brasil e do exterior. E com diálogo em comum e pontos de convergência, transcendendo os conflitos de interesse, foram explanadas decisões consideradas urgentes e de contribuição direta para auxiliar as Políticas Públicas de Saúde em Câncer de Mama no Rio de Janeiro e no Brasil.

Temos um grande problema a ser resolvido e apesar do controle de câncer de mama precisar da atuação multidisciplinar, é notório que o mastologista deve assumir a coordenação da linha do cuidado. Seja na micro, meso ou macro gestão. Por isso, convido a todos os mastologistas a refletirem sobre suas práticas de trabalho e para se co-responsabilizarem no cuidado da paciente com câncer de mama: desde o autocuidado; cuidado às famílias e comunidades; cuidado ofertado nos serviços; cuidado em rede de atenção; formulação de políticas, até encontro por instrumentos financeiros inovadores. Isto porque tudo tem um custo e se esperarmos pelo subfinanciado SUS, nós nunca chegaremos ao esperado resultado: reduzir a mortalidade do câncer no Brasil.

Neste encontro (SIM Rio), foram discutidas estratégias para minimizar o caos instalado da detecção precoce do câncer de mama, a saber:

  1. Oferecer dignidade ao usuário do sistema de saúde, retirando barreiras e burocracias com atenção ao ser humano e não a doença em si e transformando o sistema de regulação de doenças em sistema de seguimento de pessoas. O Programa de Navegação de Pacientes propõe diminuir os tempos para diagnóstico e tratamento no nosso tão complexo e ainda fragmentado SUS. E pode ser customizado para cada região do Brasil e atuar desde promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos;
  2. Capacitar os usuários e os profissionais de saúde da atenção primária, aproveitando a tendência de implementação das Estratégias de Saúde da Família (ESF). Eles serão nossos braços multiplicadores e podem ser o início do nosso tão sonhado rastreamento organizado;
  3. Desenvolver o sentimento de inconformismo no mastologista que está no seu “castelo do saber” e parar de “aceitar” passivamente as tão habituais lesões em estadiamento avançado. Este especialista deve ser a conexão que a Rede de Atenção à Saúde da sua localidade precisa;
  4. Otimizar os polos diagnósticos das lesões suspeitas, quer sejam palpáveis ou não, para resolutividade dos casos. Para dinamizar a organização da atenção secundária, em 2014 foi publicada a Portaria n°189, que estabeleceu incentivos financeiros de custeio e de investimento para a implantação de Serviços de Referência para Diagnóstico do Câncer de Mama (SDM). Esta portaria definiu critérios para habilitação das unidades, além do rol mínimo de exames necessários para o diagnóstico;
  5. Temos que aprender a sermos organizados para geração e interpretação de dados na gestão do cuidado com qualidade. E não tem outra saída – temos que usar Tecnologia de Informação em saúde;
  6. De nada importa diagnosticar se não tiver local para tratamento e de qualidade. Investimentos em detecção precoce são importantes, mas tratamento em tempo hábil e adequado baseado em evidências científicas são cruciais;
  7. Acredito que envolver atrizes e artistas com grande penetração na sociedade resolveria muitos dos nossos problemas com detecção precoce, visto que, em situações das quais o medo existe, é necessária uma interface entre as mulheres e os profissionais de saúde. Precisamos encontrar nossa musa inspiradora: uma personalidade nacional que com beleza, carisma e determinação seja capaz de tocar a opinião pública frente a esta problemática. Um médico talvez tenha alcance as tantas pacientes que ele trata, mas uma musa toca milhões de mulheres.

Sejamos exemplo de boa prática médica e vamos sair da nossa zona de conforto. Muitas vidas precisam ser salvas. Em paralelo, devemos trabalhar com ações educativas nas escolas. Educar crianças! Acredito que este tipo de ação deve ganhar mais atenção. Pode ser que estas crianças mudem o cenário atual que não conseguimos em décadas de atuação.