Por Dra. Thereza Cypreste
E de repente, amanhecemos sem poder sair, ver amigos, ver família… um distanciamento social obrigatório por conta da pandemia causada pelo vírus SARS CoV2 em pleno início das atividades de 2020. E agora, o que fazer?
Sou voluntária de um grupo de apoio que criei há 24 anos em Niterói, Adama (Associação dos Amigos da Mama). Nossas atividades acontecem semanalmente, de forma presencial durante todo o ano. Temos uma média de 25 mulheres a cada encontro. A pergunta era: o que fazer com as mulheres já tratadas e em controle, as com diagnóstico recente e as que estão em tratamento ainda. Como continuar a dar atenção a elas?
Na primeira semana, confesso que fiquei anestesiada com o que estava acontecendo. Tentando assimilar e processar todas as informações vindas em forma de tsunami. Passados cinco dias veio a ideia e a solução para o momento: a internet.
Plataforma digital:
Começamos, acanhadamente, com uma reunião semanal mantendo o horário da reunião presencial (quarta-feira), através de plataforma digital. Muitas não sabiam instalar o aplicativo. Contei com ajuda da filha de uma associada para orientar quem precisou. Agora, fazemos reunião até para comemorar aniversário de alguém num sábado à tarde. Desde a segunda semana de março até agora, já fizemos 17 reuniões, mantendo uma média de vinte participantes. Consegui incluir três participações de uma infectologista parceira, para nos orientar sobre a doença e seus cuidados. Vamos partir agora para fazer, nos trinta minutos iniciais da reunião, uma sessão de Fisioterapia (como acontece semanalmente presencial). Já fizemos comemoração da Páscoa e do Dia das Mães e estamos nos preparando para o nosso Arraiá da Adama.
WhatsApp:
Já tínhamos um grupo de WhatsApp, que era usado só para avisos. Ele foi maciçamente ativado, e elas são estimuladas e cobradas, diariamente, a postar seus afazeres de casa, receitas de comidas, exercícios e banho de sol, foto do almoço, músicas, orações, etc. Todo dia, às 18h, fazemos uma prece desejando que essa fase passe logo.
Instagram:
Sempre defendi que o Universo Feminino vai muito além de um câncer de mama. Em nossas reuniões, conversamos sobre todos os assuntos da atualidade, claro que sem deixar de falar sobre o que é mais importante no tratamento e sua manutenção. A facilidade que o aplicativo Instagram nos trouxe foi fantástica. Podemos conversar com qualquer pessoa, não importando onde ela esteja. Os assuntos vão desde automaquiagem (com direito a me verem aprender a maquiar ao vivo) até direitos e deveres previdenciários do paciente com câncer passando por nutrição, violência doméstica, filhos em casa, família distante, idoso e o isolamento, depressão, cuidados com cabelo, exercícios em casa, seguros de vida, reconstrução mamária, paciente em tratamento oncológico e pandemia, etc. Todo assunto é bem-vindo. Conseguimos fazer quatro lives, para esclarecer dúvidas sobre a pandemia, novamente com a ajuda da infectologista parceira. No Dia dos Namorados tivemos uma live musical com um cantor parceiro. Todos convidados. Desde a última semana de março até agora já foram trinta e três conversas pelo Instagram.
Facebook:
Atendendo a inúmeros pedidos, faremos, em julho, nossa primeira experiência de live via essa ferramenta. Apesar das ferramentas mais novas de internet não serem muito difíceis de serem usadas, temos um público que ainda é melhor adaptado e fiel ao facebook. Pediu, nós fazemos.
As associadas cobram a programação dos eventos, aguardam ansiosas seu início, assistem e interagem, dão sugestão de temas, pedem repeteco de algumas conversas. Enfim, estou conseguindo manter o moral do grupo em um nível considerado muito bom. Claro que a nossa equipe de três psicólogas acompanha de perto todas as intervenções e agem quando necessário. Descobrimos, inclusive, que dividindo nossos medos, conseguimos nos unir muito mais. Juntas podemos tudo.
Por conta da pandemia foi preciso nos reinventar e está sendo uma experiência muito interessante. Em minha opinião, a comunicação online, que era o futuro, agora é o nosso presente e veio para ficar em definitivo, nesse “novo normal” de viver. Mas tenho em mim uma certeza: vai passar…
*Dra. Thereza Cypreste membro da SBM Rio e fundadora da Associação dos Amigos da Mama de Niterói - RJ - ADAMA.