Usuário SUS e a Navegação de Pacientes

Por Marcelle Medeiros, presidente da Fundação Laço Rosa

 

A primeira vez que ouvi o termo “Patient Navigation” foi em 2012, no hospital Danna Faber, em Boston. Eu já era Presidente da Fundação Laço Rosa e uma das 14 integrantes da delegação brasileira convidada pelo governo americano para um programa de empoderamento feminino. Naquela época, pensar na possibilidade de uma “babá de paciente” que pegasse na mão e cuidasse do fluxo de atendimento dele, parecia irreal para o Brasil e para o SUS. E o termo “Patient Navigation” martelou na minha cabeça por anos até o caminho da Laço Rosa esbarrar no  Clube da Mama, programa de educação e rastreamento da Dra. Sandra Gioia, que já impactou milhares de mulheres.

 

Em 2018, de março a setembro, com patrocínio do Instituto Avon, iniciamos o projeto piloto no bairro Andaraí, no Rio de Janeiro, cadastrando 678 mulheres da comunidade com seis diagnósticos positivos para câncer de mama. Inúmeras barreiras foram identificadas no estudo, entre elas destacam-se: problemas do sistema com programação de cuidados de saúde (100%), problemas financeiros (64%), preocupações de comunicação com o pessoal médico (58%), medo (44%) e apoio social (14%).

 

O que os números não mostram é a gratidão das usuárias SUS por encontrarem um ponto focal, o Navegador, capaz de conduzir o caminho para um fluxo de saúde mais ágil e menos confuso. Não estamos falando de furar a fila ou de usar meios pouco ortodoxos para conseguir um exame, estamos falando de ter alguém que conhece o SUS e pega na mão do paciente para indicar a melhor rota. Obviamente, quando fazemos isso expomos as fraquezas do sistema e desagradamos os gestores públicos que ainda não enxergaram o quanto a Navegação de Pacientes pode ajudar na solução de problemas.

 

Ainda é difícil a compreensão do que é na prática a Navegação de Pacientes, para usuários e gestores, mas quando pensamos na complexidade do SUS, especialmente no atual Estado do Rio de Janeiro com suas mazelas e guerras urbanas, encontrar um ser humano dotado de conhecimento e empatia, capaz de navegar a turbulência que é precisar de um exame e não conseguir o agendamento ou bater de porta em porta até achar o fluxo correto, Anjo é a palavra que resume esse profissional.

 

De toda essa experiência, o que fica não são as inúmeras dificuldades que precisamos enfrentar com uma equipe enxuta de trabalho e recursos limitados, mas sim as inúmeras alegrias que pudemos proporcionar às mulheres daquela comunidade que talvez pela primeira vez em suas vidas foram tratadas com dignidade, respeito, atenção e empatia. Navegar é preciso, já dizia o poeta!

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