Pós San Antonio 2019

* Por Dra. Aline Gonçalves

 

O San Antonio Breast Cancer Symposium acontece anualmente na cidade de San Antonio, no Texas/EUA, e tem como propósito prover informações do “Estado da Arte” da biologia, etiologia, prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

Neste ano, a audiência contou com mais de 7500 participantes de mais de 90 países. Os mais importantes estudos e temas sobre câncer de mama foram abordados e discutidos por experts e cientistas.

Veja alguns destaques a seguir:

HER2 Positivo

  • Estudo HER2CLIMB

O Tucatinibe é um inibidor de tirosina quinase oral que apresenta alta afinidade pelo domínio HER2 e baixa afinidade pelo domínio HER 1.

No estudo HER2CLIMB (Fase II), foi avaliado a associação de Tucatinibe, Trastuzumabe e Capecitabina em pacientes com câncer de mama metastático Her2 positivo previamente tratados com Trastuzumabe, Pertuzumabe e Trastuzumabe Emtansina (TDM1).

Foram randomizados 612 pacientes a receber Tucatinibe, Trastuzumabe e Capecitabina ou placebo, Trastuzumabe e Capecitabina.

A sobrevida livre de progressão (SLP) em 1 ano (desfecho primário) foi de 33% no braço do Tucatinibe versus 12,3% no braço controle com HR 0,54 (0,42-0,71).

A sobrevida global em 2 anos foi de 44,9% no braço do Tucatinibe versus 26,6% no braço controle com HR 0,66 (0,5-0,88).

Pacientes com metástase em sistema nervoso central foram incluídas e a SLP em 1 ano nesse grupo foi de 24,9% no braço do Tucatinibe e 0% no braço placebo com HR 0,48 (0,34-0,69).

Os efeitos colaterais mais comuns foram diarreia, síndrome mão-pé, náuseas, fadiga e elevação de transaminases, a maioria de intensidade leve.

Esses resultados são impressionantes, visto que, trata-se de uma população prognóstico ruim, poli tratada e que em quase 50% havia metástases para SNC.

Sendo assim, essa combinação poderá ser um novo padrão de tratamento para pacientes com esse perfil de doença.

 

  • Estudo DESTINY-Breast 01

O Trastuzumabe Deruxtecan (DS-8201) é um anticorpo conjugado composto por um anticorpo anti-HER2 (Trastuzumab) e um inibidor citotóxico da topoisomerase I (Exatecan).

Trata-se de um estudo de fase 2, braço único, aberto, multicêntrico que incluiu pacientes com câncer de mama metastático HER2 positivo previamente expostas a TDM-1.

O estudo foi composto por duas fases sequenciais: a primeira fase em que foram avaliados três níveis de doses diferentes e a segunda fase em que foram avaliadas a eficácia e a segurança da dose recomendada.

Foram incluídos 184 pacientes extensamente poli tratadas (mediana de seis linhas de tratamentos prévio) que receberam a dose recomendada de Trastuzumabe Deruxtecan (5,4 mg /kg).

Resultados mostram taxa de resposta observada foi de 60,9% (IC 95% 53,4 a 68,0); duração mediana da resposta de 14,8 meses (IC 95%, 13,8 a 16,9), e SLP mediana foi de 16,4 meses.

Os eventos adversos mais comuns foram neutropenia, anemia, náusea e doença pulmonar intersticial em 13,6% dos pacientes (10,9% grau 1 ou 2).

Os dados desse estudo são surpreendentes por demonstrarem alta taxa de resposta, alta duração de resposta e sobrevida livre de progressão nunca atingidos previamente em pacientes com câncer de mama HER2-positivo metastático poli tratadas após falha a TDM-1.

Dias após a apresentação desses dados, o FDA (U.S. Food and Drug Administration) aprovou o uso da droga nos Estados Unidos da América.

 

Hormonioterapia

  • Estudo NSABP B-42 acompanhamento de 10 anos

Esse estudo fase III que avaliou 5 anos adicionais de Letrozol adjuvante após 5 anos de hormonioterapia adjuvante em pacientes com câncer de mama estádios iniciais na pós menopausa.

Em 10 anos de acompanhamento, o uso de Letrozol por mais 5 anos aumentou a sobrevida livre de recidiva em 4 %. O risco de fratura por osteoporose não aumentou.

Segundo Dr Mamounas, que apresentou esses dados, os pacientes devem ser selecionados baseado em características clínicas de cada um (comorbidades, densidade óssea, tolerabilidade) e características do tumor.

Esperamos que a classificação genômica possa, no futuro, predizer qual paciente tem mais risco de recorrer tardiamente e qual paciente terá mais benefício com hormonioterapia estendida.

 

  • Estudo IBIS II acompanhamento de 10 anos

Nesse estudo de fase 3, 3864 pacientes na pós menopausa com alto risco para desenvolver câncer de mama foram randomizadas para receber Anastrozol ou placebo por 5 anos.

O objetivo primário do estudo era avaliar o número de casos novos de câncer de mama in situ ou invasivo. Com seguimento mediano de 10.9 meses, o grupo que recebeu Anastrozol apresentou 61% (HR 0·39, 0·27–0·58, p<0·0001) de redução de novos eventos de câncer de mama nos primeiros 5 anos. Além disso, mesmo após os 5 anos de tratamento, o grupo que recebeu Anastrozol continuou a apresentar uma redução de novos eventos de câncer de mama (0·64, 0·45–0·91, p=0·014).

A redução do risco de câncer de mama na maioria dos casos foi devido à redução de câncer de mama receptor hormonal positivo, não houve redução de tumores receptor hormonal negativo.

Não foi observado aumento de casos de fratura quando comparados ao grupo placebo (380 vs 373, OR 1·04, 95% CI 0·88–1·22).

Não houve redução na mortalidade específica por câncer de mama. Este foi o primeiro   estudo a comprovar o efeito “carryover” dos inibidores de aromatase no cenário de prevenção para o câncer de mama.

Sendo assim, o Anastrozol se consolida como mais uma opção de quimioprofilaxia em  pacientes de alto risco de câncer de mama.