Por Dr. Gustavo Iglesias
Este estudo analisou uma coorte de 140.615 casos de carcinoma ductal in situ registrados na National Cancer Database estadunidense, diagnosticados entre 2004 e 2014, identificando 16.668 incidências de carcinoma invasor associado no relatório anatomopatológico final, e buscou correlacionar o achado de doença invasora com o intervalo de tempo transcorrido entre diagnóstico e tratamento cirúrgico.
O que se encontrou foi um aumento crescente — pequeno em termos absolutos, porém proporcional ao intervalo, e estatisticamente significativo — na incidência de carcinoma invasor; variando de 11% para pacientes operadas até 30 dias depois do diagnóstico, a 15% para pacientes com intervalo superior a 120 dias. Raça não-branca, ensino médio incompleto, distância entre moradia e hospital, e comorbidades foram fatores de risco para maior demora até o tratamento.
Pacientes com doença invasora apresentaram uma diferença pequena (1%) porém estatisticamente significativa em mortalidade por qualquer causa em 5 anos.
É bem estabelecido que o diagnóstico de carcinoma ductal in situ aumenta o risco de morte por câncer de mama [1,2] e que esse efeito é magnificado pela idade, raça [1, 2], lesões palpáveis e biomarcadores [3], mas que persiste pequeno em termos absolutos — permitindo a uns enxergar sobre diagnóstico, e a outros, a eficácia do tratamento habitual. [4,5]
O estudo oferece um dado importante — crítico, talvez, em um presente onde recursos do sistema de saúde são racionados frente à pandemia de COVID-19 — que sugere que a espera pode não ser segura em pacientes com diagnóstico de carcinoma ductal in situ. Entretanto, a pouca diferença de sobrevida entre os grupos com e sem doença invasora pode atenuar o impacto desse dado.
É possível, ainda, que ao não examinar a mortalidade específica por câncer de mama, a análise esteja “diluindo” a significância dos resultados. Também se deve aventar que o atraso no tratamento represente um marcador para pior acesso a serviços de saúde em geral, e que a diferença na mortalidade por qualquer causa não necessariamente se correlacione com a real incidência e mortalidade de câncer de mama na coorte estudada.
A especialidade segue aguardando o resultado de estudos prospectivos sobre o manejo conservador de lesões intraductais para responder em definitivo a essas dúvidas.
*Dr. Gustavo Iglesias é mastologista, cirurgião oncológico e médico do Serviço de Mastologia do INCA.
Referências:
[1] Narod SA, Iqbal J, Giannakeas V, Sopik V, Sun P. Breast Cancer Mortality After a Diagnosis of Ductal Carcinoma In Situ. JAMA Oncol. 2015;1(7):888‐896. [2] Elshof LE, Schmidt MK, Rutgers EJT, van Leeuwen FE, Wesseling J, Schaapveld M. Cause-specific Mortality in a Population-based Cohort of 9799 Women Treated for Ductal Carcinoma In Situ. Ann Surg. 2018;267(5):952‐958. [3] Kerlikowske K, Molinaro AM, Gauthier ML, et al. Biomarker expression and risk of subsequent tumors after initial ductal carcinoma in situ diagnosis [published correction appears in J Natl Cancer Inst. 2010 Jul 7;102(13):993]. J Natl Cancer Inst. 2010;102(9):627‐637. [4] Wapnir IL, Dignam JJ, Fisher B, et al. Long-term outcomes of invasive ipsilateral breast tumor recurrences after lumpectomy in NSABP B-17 and B-24 randomized clinical trials for DCIS. J Natl Cancer Inst. 2011;103(6):478‐488. [5] Van Zee KJ, Barrio AV, Tchou J; Society of Surgical Oncology Breast Disease Site Work Group. Treatment and Long-Term Risks for Patients With a Diagnosis of Ductal Carcinoma In Situ. JAMA Oncol. 2016;2(3):397‐398.