Por Dr. Paulo Mauricio
É de conhecimento geral que a terapia de reposição hormonal pós menopausa (TRH) está implicada no aumento de risco de câncer de mama para as usuárias. Esse trabalho mostra o resultado da análise de 58 estudos avaliados (24 prospectivos e 34 retrospectivos). Os 24 estudos prospectivos analisaram 108647 casos de carcinoma mamário invasivo em mulheres na pós menopausa e mostrou que 51% das pacientes havia feito TRH em algum momento da vida. O trabalho compara os riscos de desenvolvimento de câncer de mama entre mulheres que já haviam usado TRH e as que nunca haviam utilizado e analisa uma série de parâmetros implicados na reposição hormonal.
Dentre as usuárias, existe a análise separada pelo tipo de esquema de TRH (estrogênio+ progesterona de forma contínua, estrogênio+ progesterona intermitente e estrogênio isolado), pelo tempo de uso, pelo uso atual e passado, pela via de administração do estrogênio, pelo tipo de estrogênio, pelo tipo de progesterona e o impacto do sobrepeso/ obesidade juntamente à TRH no risco do câncer de mama. A idade média de desenvolvimento da doença foi 65 anos e o tempo médio de uso de TRH foi de 10 anos para usuárias atuais e 7 anos para as que haviam feito uso no passado. Quanto maior o tempo de uso, maior o risco para o desenvolvimento do câncer de mama (e esse persiste por períodos superiores a 10 anos, mesmo após a interrupção do tratamento). Comparativamente não houve diferença quanto ao aumento de risco quando avaliamos o uso de estrogênio equino x estradiol, via oral x transdérmica ou quanto ao tipo de progesterona utilizados (levonorgestrel, noretisterona ou acetato de medroxiprogesterona). O uso de progesterona no esquema contínuo elevou mais o risco de desenvolvimento de câncer de mama do que o uso intermitente (RR 2,30 x RR 1,93, respectivamente).
A utilização de estrogênio vaginal isolado não aumentou o risco. A tibolona também foi avaliada e igualmente apresentou elevação significativa do risco (RR 1,57). Em pacientes que fizeram uso de TRH com estrogênio e progesterona por períodos de 5 a 14 anos, os tumores com receptor de estrogênio positivo foram mais comuns e a histologia lobular foi a mais frequente. A obesidade não adicionou risco extra às pacientes usuárias de TRH (as usuárias apresentam risco semelhante independente do IMC), entretanto nas não usuárias, o aumento do IMC elevou o risco do aparecimento de câncer. Quanto a forma de uso e o aumento absoluto de casos, a utilização por 5 anos de estrogênio + progesterona continuamente provocou 1 caso a cada 50 usuárias, estrogênio + progesterona intermitente, 1 caso a cada 70 usuárias e a estrogenioterapia isolada, 1 caso a cada 200 usuárias. A utilização por 10 anos dobrou o risco apresentado anteriormente.
Desse modo, devemos sempre individualizar a prescrição da TRH. Pacientes com sintomas vasomotores e sistêmicos intensos tem claro benefício na qualidade de vida com a prescrição da TRH, entretanto, a paciente deve ser informada de todos os riscos que a terapia impõe. Cabe a avaliação em conjunto da paciente com o seu médico da decisão do início, manutenção e interrupção da TRH, considerando sempre os riscos e benefícios associados e a qualidade de vida da paciente.
Paulo Maurício Soares Pereira Filho é 2º Tesoureiro da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Rio de Janeiro.