Por Dr. José Sigiliano
Tudo começou com o sonho de revitalizar a fazenda de meu pai na zona da mata mineira, degradada pelo desmatamento e antiga plantação de café. Durante uma viagem a Escócia tive a oportunidade de visitar uma destilaria de Whisky, da qual tive algumas surpresas. Dentre elas, a descoberta de que o Whisky destilado é transparente e límpido, como nossa cachaça, e só após seu envelhecimento em tonéis de madeira (Carvalho) torna-se âmbar. Foi quando pensei… “se os escoceses fazem esse produto que encanta o mundo, por que nós brasileiros não podemos fazer uma cachaça de qualidade, capaz de encantar apreciadores de bebidas destiladas”?
De volta ao Brasil, fui estudar cachaça num curso de alambiqueiro em Itaverava, interior de Minas Gerais, com professores da Universidade de Viçosa, por 10 dias. Após essa iniciação, segui para um curso de Pós-Graduação em Tecnologia da Cachaça, pela Universidade Federal de Lavras -MG, mas dessa vez por dois anos.
Ao final do curso optei pelo tema de “Utilização do Álcool a 70%”, em minha monografia. A decisão sobre a tese da monografia muito me afligiu, pois como médico, mastologista e cirurgião, escrever ou produzir algo que fosse prejudicial à saúde me gerava um certo conflito à época.
Resolvi essa questão através da criação de projetos paralelos à produção da cachaça, desenvolvendo saneamento básico de qualidade, reflorestamento de áreas degradadas com o plantio de árvores de nossa Mata Atlântica e, indiretamente, melhorando a qualidade de vida dos funcionários. Além do mais, me imbui da ideia de que a cachaça deve ser degustada, ao invés da imagem de seu uso sem moderação.
Com outras mudanças, melhoramos também a qualidade da água, revitalizando diversas nascentes em nossa região, inclusive a que nos fornece água para o funcionamento do alambique, que fica a 800m de altitude. Como não poderia ser diferente, a natureza fez sua parte trazendo de volta a fauna daquela região, tornando comum nos dias de hoje encontrarmos tucanos, melros, canários, trinca-ferros, jacus, pacas, capivaras, tatus, raposas, cachorros do mato e muitos outros.
Nossa cachaça torna-se realidade através da destilação de um produto natural, colhido na própria fazenda, mosto do caldo de cana de açúcar, sem adição de qualquer componente químico, o que a difere de outros destilados.
O sucesso do produto e de nossas benfeitorias colocou a fazenda e a região no circuito turístico rural das cidades próximas. Passam por ali hoje, Rallys de Jipes, Motocross e Mountain bike, buscando além de aventura, acolhimento e abastecimento de água pura de nossas nascentes.
A Cachaça Água da Mata, e tudo que a cerca, é para ser degustada e alegrar seu coração.
“Aprecie Com Moderação” e “Se Beber Não Dirija”
*Dr. José Sigiliano, Mastologista e Cirurgião - Membro Titular da SBM Rio