Por Dra. Sandra Gioia – vice-presidente da SBM Rio
Contribuição da Sociedade Brasileira de Mastologia para a detecção precoce do câncer de mama no Rio de Janeiro
O cuidado em saúde está se tornando cada vez mais complexo, ao mesmo tempo em que a demanda por cuidado de qualidade cresce. Os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) convivem com grande pressão por parte dos usuários para disponibilizar recursos assistenciais suficientes e adequados. No entanto, não tem sido possível responder a tal demanda o que gera longas filas de espera para alguns procedimentos.
Apesar dos avanços no diagnóstico e terapia, os sistemas de saúde não têm conseguido responder de modo satisfatório às necessidades de saúde das populações e a assistência integral à saúde permanece como um grande desafio, na medida em que é necessário combinar todas as dimensões da vida para a prevenção de agravos e recuperação da saúde. O cuidado oferecido é pontual, descontínuo, voltado às situações emergentes, respondendo às queixas imediatas apresentadas. As pessoas sob cuidado são obrigadas a percorrer longos e sinuosos caminhos para obter a atenção à sua saúde. Neste sentido, a atenção básica e os diversos níveis de especialidades, apoio diagnóstico e terapêutico, média e alta complexidade precisam operar de modo integrado.
Vários fatores contribuem para a demora no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama como dificuldade de acesso à mamografia e a serviços especializados, serviços de saúde não estruturados para o atendimento a essa doença e profissionais que fazem o primeiro atendimento às mulheres nem sempre são capacitados para detectar e conduzir os casos de patologia mamária e/ou atentos às recomendações para os cuidados de câncer de mama.
Na organização do Sistema de Saúde no Brasil, a Atenção Básica é a principal portade entrada dos usuários no sistema de saúde, sendo responsável pela coordenação do cuidado, inclusive quanto ao encaminhamento dos que necessitam de atendimento em Unidades com nível de maior complexidade e densidade tecnológica. Nesse contexto, a Estratégia Saúde da Família visa à reorganização da Atenção Básica no País, sendo uma estratégia de expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica, com potencial para ampliar a resolutividade e causar impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades.
No Município do Rio de Janeiro existi desenhada a Linha de Cuidado para Câncer de Mama orientada por diretrizes clínicas do Ministério da Saúde/INCA como o Caderno 13 de Atenção Básica e as Diretrizes para Detecção Precoce do Câncer de Mama. No Brasil, o câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum e a principal causa de morte por câncer entre as mulheres, com 14.206 mortes em 2013, e 58.900 novos casos estimados para o ano de 2018. Para o Estado e Município do Rio de Janeiro são estimados 8.050 e 4.010 novos casos, respectivamente.
A assistência aos cuidados em câncer de mama no Município do Rio de Janeiro ainda enfrenta grandes desafios como: aumento da cobertura mamográfica, adesão aos protocolos, otimização da oferta de procedimentos e capacitação das equipes de saúde. Existe baixa cobertura mamográfica de rastreamento na idade preconizada pelo Ministério da Saúde, atrasos para confirmação diagnóstica de lesões suspeitas e para início do tratamento no Rio Janeiro.
A Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Rio de Janeiro com o apoio do Grupo Roche, espera contribuir na capacitação das equipes da Estratégia Saúde da Família como uma ferramenta para melhorar o fluxo de pacientes para a linha de cuidados da saúde mamária, contribuindo para o diagnóstico precoce e a redução da mortalidade por câncer de mama no Município do Rio de Janeiro. Este programa foi baseado no projeto original do grupo da Faculdade de Medicina de Petrópolis e do Hospital Alcides Carneiro – Estado do Rio de Janeiro – coordenado pelo Dr. Carlos Vinicius Pereira Leite e aprovado pelo Grupo Roche.
O programa de capacitação dos profissionais de saúde para melhorar o acesso aos cuidados de câncer de mama no Município do Rio de Janeiro pretende iniciar o programa nas Estratégias Saúde da Família (ESF) da Área Programática (AP) 2.2 (Grande Tijuca) que possuem profissionais de saúde, que coordenam, apoiam, analisam, promovem e executam ações de saúde na área que abrange 7 bairros: Praça da Bandeira, Tijuca, Alto da Boa Vista, Maracanã, Vila Isabel, Andaraí, Grajaú.
Nesta área totalizavam até o último Censo Demográfico do IBGE (2010), 371.120 habitantes (sendo 163.603 homens e 207.517 mulheres), 634 setores censitários, e uma área de 55,2 Km². Isto significa uma densidade demográfica de 6.727,33 habitantes/Km². Em 2010, a distribuição por faixa etária correspondia a: 3.117 crianças menores de um ano (0,8%), 11,994 crianças de um a quatro anos (3,2%), 56.051 menores de 15 anos (15,1%). As mulheres de 15 a 49 anos somavam 99.082 pessoas (47,7% das mulheres), e os idosos (de 60 anos ou mais) eram 81.867 pessoas (22,1% do total).
As Estratégias Saúde da Família na AP 2.2 totalizam 10 (dez) unidades com 70 médicos, 50 enfermeiros e 200 agentes comunitários (Figura 1). A perspectiva é ampliar a área de atuação e incluir as demais áreas programáticas do Rio de Janeiro que perfazem um total de 10.
Figura 1. Áreas Programáticas do Município do Rio de Janeiro
Numa proposta de Atenção Programada o programa prevê para a gestão do cuidado – as Mudanças de Comportamento com a participação de especialistas em oncologia mamária na Capacitação dos Profissionais de Saúde com processos de educação permanente contemporâneos. Tem como objetivo principal capacitar as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Área Programática 2.2 do Município do Rio de Janeiro, com o objetivo de otimizar o fluxo de pacientes para a linha de cuidados da mama e a detecção precoce do câncer de mama.
Ensinando os profissionais de saúde da APS e empoderando as mulheres da comunidade, pretende-se mostrar a importância da co-responsabilidade e das ações para a prevenção, detecção precoce e tratamento do câncer de mama com aumento da sobrevida e diminuição da mortalidade por esta doença no Rio de Janeiro.
Neste programa se vislumbra trabalhar sob quatro aspectos para a criação de um plano estratégico relacionado ao câncer de mama:
- Avaliação do perfil da comunidade a ser abordada nas ações práticas: realização do levantamento dos principais serviços e recursos disponíveis na comunidade em saúde da mama, na análise das principais necessidades em saúde da mama e na identificação dos pontos de defasagem em educação e demais recursos, avaliação da qualidade dos serviços prestados;
- Desenvolvimento de voluntariado e organização: criação uma rede de pessoas que desejam trabalhar em nome da causa dentro da comunidade;
- Conscientização e educação: identificação dos pontos de defasagem que necessitam ser alcançados com campanhas de conscientização;
- Detecção precoce e direcionamento para tratamento: realizar exame clínico e mamográfico conforme recomendações do Ministério da Saúde na AP 2.2. Os participantes aprendem a desenvolver um plano estratégico para chegar até os responsáveis pela tomada de decisões chave; construção de uma rede de suporte; e como fazer o seguimento com retorno de resultados positivos.
Será criado um cenário específico para o desenvolvimento das atividades práticas do projeto em uma Unidade de Saúde da rede de serviços do Município. Nesse cenário teremos pelo menos 1 Mastologista para atuar enquanto durar o Projeto.
A capacitação dos profissionais ocorrerá em períodos de 4 horas semanais, em Módulos, com etapa teórica e etapa prática. A etapa teórica tem como objetivo sensibilizar os profissionais para a questão do câncer de mama e contribuir para a qualificação das suas ações de saúde.
Nessa etapa serão apresentados e discutidos os dados epidemiológicos, fatores de risco, a biologia, a história natural e o comportamento, exames de imagem, procedimentos diagnósticos, o tratamento, a linha de cuidados, o fluxo de pacientes e o medo que envolve o câncer de mama, além de dramatizações e relatos de casos.
A etapa prática tem como objetivo a capacitação de Médicos e Enfermeiros, quanto à anamnese, exame clínico das mamas, avaliação crítica dos principais exames de imagem das mamas e raciocínio clínico nas patologias mamárias.
Auxiliar a APS na implementação das diretrizes clínicas para detecção precoce do câncer de mama e no enfrentamento das diversas barreiras existentes na Rede de Atenção a Saúde (RAS) em um Sistema de Saúde fragmentado pode minimizar o sofrimento de milhares de mulheres que continuamente chegam atrasadas para iniciar o tratamento de câncer de mama, bem como, melhorar a experiência da usuária dentro do SUS.